Especialistas alertam para risco que as contaminantes emergentes podem causar à saúde da população em Porto Alegre
14/07/2025
Você já parou para pensar na qualidade da água que sai da sua torneira? Em Porto Alegre, a maior parte da água consumida pela população vem do Guaíba. Segundo especialistas que investigam o tema, esse manancial está cada vez mais comprometido pela poluição dos principais rios da Região Metropolitana, como o Gravataí, Sinos, Caí e Jacuí, que despejam no Guaíba substâncias altamente perigosas, entre elas, os chamados contaminantes emergentes.
Esses poluentes têm preocupado autoridades e pesquisadores, e foram tema de debate durante o Seminário de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Porto Alegre. Na ocasião, o vereador Gilvani “O Gringo” alertou para os riscos silenciosos à saúde causados por compostos químicos que não são completamente eliminados nos sistemas tradicionais de tratamento de água.
Mas o que são contaminantes emergentes?
São substâncias químicas que ainda não possuem regulamentação específica nas normas sanitárias brasileiras e que resistem ao processo de filtragem convencional. Estão nesse grupo resíduos de medicamentos como antibióticos, antidepressivos e anti-inflamatórios, além de hormônios, produtos de limpeza, itens de higiene pessoal, microplásticos, pesticidas e aditivos industriais.
Segundo especialistas, esses contaminantes chegam aos rios através do esgoto doméstico e industrial, descarte incorreto de resíduos e uso excessivo de produtos químicos no campo e na cidade. A água do Guaíba, mesmo tratada, ainda pode conter vestígios desses compostos, que são ingeridos diariamente pela população.
A preocupação do vereador Gilvani é de que a exposição contínua a essas substâncias possa estar associada a problemas de saúde como infertilidade, alterações hormonais, resistência bacteriana a antibióticos, doenças neurológicas (como Alzheimer e Parkinson), distúrbios metabólicos, câncer e comprometimento do desenvolvimento cognitivo em crianças.
O alerta mais grave é que, atualmente, não existem limites legais definidos para essas substâncias na água potável. A legislação brasileira ainda não regulamenta o monitoramento ou o controle dos contaminantes emergentes nos mananciais que abastecem a população.
Em sua fala durante o seminário, o vereador Gilvani “O Gringo” expressou preocupação com a situação. “Água limpa e segura não é luxo, é direito. Estamos falando de saúde pública. Tem gente que ainda não se deu conta da gravidade desse assunto. Se a gente não agir agora, vai pagar um preço alto no futuro.”
Entre as medidas que o vereador propõe está a criação do Banco de Água Mineral de Porto Alegre, projeto de lei que prevê a distribuição de água potável para famílias em situação de vulnerabilidade, por meio de doações da iniciativa privada – tudo isso sem gerar custos ao município.
Com atuação destacada na área ambiental, o vereador também defende a criação de um plano de segurança da água, previsto nas diretrizes nacionais, e a modernização do sistema de saneamento. Ele cobra investimentos na fiscalização ambiental, atualização tecnológica das estações de tratamento e ações efetivas de despoluição dos rios da Região Metropolitana.
Para o biólogo e pesquisador Dr. Jackson Muller, a preocupação do vereador é legítima. Segundo ele, a cobertura e eficiência do tratamento de esgoto na Região Metropolitana de Porto Alegre ainda são muito baixas, o que favorece o acúmulo de contaminantes emergentes nos corpos d’água. Esses compostos, destaca o especialista, impactam não apenas a saúde humana, mas também a biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas.